quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A cidade dos castanheiros

Nesta cidade abundam os castanheiros. Nos parques, nas ruas, nos quintais, por esta altura do ano é uma chuva de castanhas: as suas cápsulas cobertas de picos aterram no pavimento, abrem-se num trascaspaz e lá de dentro solta-se uma valente e pesadona castanha, infeliz por não ter aberto a cabeça a nenhum peão. Os castanheiros são habitualmente de grande porte, nesta terra, e o seu fruto pouco tem a ver com a nossa castanha pequenina, em forma de coração, tenrinha, perfumada e que tão bem sabe quando tostada no assador, com uma fina película de cinza. Não, estas castanhas, brilhantes e polidas, são barrigudas, informes, mais duras e mal gostosas do que a bolota. Não servem para nada a não ser levarem uns pontapés pela manhã, a caminho do trabalho. Quanto a elas, vingativas, não desistem enquanto não nos acertam uma cabeçada. Já não sei em que livro da Agustina ela escreve sobre um tempo em que se aferia a riqueza de alguém pelo número de castanheiros de que era proprietário. Se assim fosse, esta cidade seria rica. Provavelmente até o é. Só não sabe o que fazer dos castanheiros. De tão bonitos, não servem para nada.

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