sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Tremor

5 de Agosto. Estava deitado no sofá, a cozer a ressaca causada pelos três vinhos diferentes da noite anterior. Às 10:49 uma tontura, acompanhada de náusea, fez-me pensar que ainda estava embriagado. Sucedeu-se uma brisa de calor vinda da porta da varanda e um balouçar do sofá, a 5,5º na escala de Richter.
9:30 foi a hora a que começou o terramoto de 4 de Março de 1977, em Bucareste. Domna V., correu pelo apartamento à procura do seu gato e desceu as escadas. Quando chegou à rua e o edifício começou a desmoronar-se, lembrou-se do bebé, que ficara no berço, a dormir.
Em 2007, após trinta anos de recolhimento no bairro para onde se mudou após o desastre, Domna V. atravessou Bucareste para ir a uma consulta. À excepção de alguns edifícios desconjuntados, não reconheceu a cidade. Envelhecidos e maltratados, haviam sobrevivido a três décadas de transformação urbana e tremores menores (um pouco à semelhança dos livros empilhados no chão. Sem lugar nas prateleiras, lá se vão aguentando tem-te-não-caias, aos tropeções de quem passa distraído).
Pergunto a Mihaela, qual era a profissão de Domna V. “Professora de literatura romena.” E a do marido? “Trabalha na construção civil.”

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