quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

o incêndio

Vera São Roque, 20 anos, empregada de balcão, grávida de um dia, e Joana João Roque Silvestre, a filha de dois meses, salvaram-se ontem de morrer asfixiadas no quarto onde ambas se encontravam a dormir, num apartamento em Calem. Os corpos foram encontrados inertes pelo pai da criança, que tinha casado com a mãe na véspera. Roberto de Deus Silvestre, 20 anos, jornalista doméstico, estava na casa de banho quando o incêndio deflagrou. A chama de uma vela que tinha sido deixada acesa pegou fogo ao vestido de noiva, rapidamente enchendo de fumo o quarto, cuja porta estava fechada. Na tentativa de apagar as chamas, Roberto de Deus Silvestre sofreu queimaduras superficiais nas mãos e no rosto, tendo sido assistido no local por um piquete de paramédicos, chamado ao local pelo corpo de bombeiros voluntários, que acorreram ao acidente na sequência de um telefonema de uma vizinha que morava no andar de baixo. Lepondina Só Santos, 73 anos, viúva reformada, depois de quatro horas a rebolar na cama, vencida por uma insónia, tinha-se levantado para beber um copo de água e tomar um comprimido de valeriana que lhe tinha sido recomendado pela sobrinha naturista. Encontrava-se à janela a fumar um cigarro quando viu uma “bola de fogo” a voar (não conseguindo extinguir as chamas do vestido, Roberto de Deus Silvestre optou por mandá-lo pela janela). Orlando Nabeiro, 55 anos, funcionário de uma repartição de finanças, de baixa médica, morador no prédio em frente, escutou “umas vozes” e como andava desconfiado de há muito tempo “não se falar numa onda de assaltos”, aproximou-se da janela para observar um “gatuno a pegar fogo ao corpo de uma mulher e depois a mandá-la janela fora”. Imediatamente avisou a polícia da ocorrência, cujo “inexplicável atraso” o deixou “muito indignado”. Carolina Piteira, 62 anos, viúva médium, que mora no andar de cima, tinha acabado de despedir-se do marido, que lhe anunciara o regresso de nossa senhora à terra para celebrar a eternidade das almas (“mas só das boazinhas”). Ao fechar a janela viu “uma linda figura”, “toda iluminada”, a “descer do céu em grande velocidade”. “Fez uma péssima aterragem, infelizmente”, lamentou Carolina Piteira: “Não fosse o meu falecido Martinho avisar-me antes e teria pensado tratar-se de um demónio. A coitadinha ardeu que nem um pau de fósforo. Uma desgraça.” Examinadas no serviço móvel de urgências e cuidados intensivos, Vera São Roque e a sua filha Joana foram consideradas livres de perigo, mas não do susto que provocaram entre a vizinhança.

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