Estava longe de saber de quem o Francisco era irmão,
quando o conheci no voo Paris-Londres, em que ficámos sentados lado a lado. Tinha passado os últimos três meses a trabalhar na vinha, numa propriedade suíça, e depois de visitar um tio em França (não cheguei a perceber em que cidade) ia encontrar-se com dois irmãos, que estavam a trabalhar na Escócia e vinham também a Londres para gozarem juntos duas semanas de férias, na casa de amigos. Nascido em Nova Lisboa (depois Huambo), aos dois anos o Francisco foi com os pais para a ilha de Santiago, em Cabo Verde, onde veio a nascer António. Com o 25 de Abril mudaram-se para Portugal, onde nasceram os dois irmãos mais novos: a rapariga no Algarve e o irmão mais novo em Calem (onde o meu pai, durante a primária, foi colega de carteira do António). Durante a viagem o Francisco disse-me que estava muito ansioso. Vários colegas tinham-no aconselhado a não ir para Inglaterra e para além do reencontro com os irmãos e os amigos, ia conhecer a sobrinha, que já tinha nascido em Edimburgo. Depois de recolher a bagagem, o Francisco despediu-se apressadamente de mim (fiquei para trás à espera da minha mala), para ir ter com a família que esperava por ele. Reencontrei-o minutos depois ladeado por dois guardas de fronteira. Enquanto o guarda conferia a fotografia dele no passaporte, o Francisco mostrava-lhe os documento de trabalho na Suíça, procurando convencê-lo de que estava apenas de visita à Inglaterra. Entretanto, um dos passageiros aproximou-se da saída e a porta automática abriu-se, dando a ouvir a gritaria que se passava do outro lado: os amigos de Francisco discutiam com a polícia por trás da parede de vidro (foi nesse momento que peguei na câmara). O guarda de fronteira agarrou no saco de Francisco e acto contínuo os seus haveres caíram no chão (foi nesse momento que disparei). Em primeiro plano, de perfil, ao centro da imagem, o duo guarda-Francisco, a mão deste escondida por trás do rosto do primeiro, que tem os cabelos em pé, não pelo susto de ter apanhado uma bofetada, mas porque o chapéu lhe saltou da cabeça. Em segundo plano, de frente para a imagem, o seu colega reage de uma forma desconcertante. Descaído para a direita, tem o braço direito esticado. Pela direcção que o seu rosto toma, a sua atenção parece concentrar-se no chapéu, e dir-se-ia que se prepara para dar um salto e apanhá-lo no ar. Em terceiro plano, do lado direito, um passageiro de costas no umbral da porta de saída. Ao fundo, à esquerda, os amigos de Francisco rodeados por um cordão de polícias. Reparem na criança de colo, abraçada ao pescoço da mãe, com o rosto escondido no seu ombro.
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