sexta-feira, 25 de março de 2011

três feridos e uma ambulância

Seguia pela estrada nacional em direcção ao Porto.
Já na freguesia da Valga passei por uma camponesa que trazia pela trela um boi. Ao olhar pelo retrovisor, apercebi-me que o boi ficou excitado pela passagem do carro e começou a andar mais depressa que a dona, que se viu aflita para conseguir acalmá-lo. Estacionei o carro mais à frente e fiquei à espera dos dois. A estrada ali era em forma de u, no interior do qual uma vegetação compacta impedia a visão de quem viesse dos dois sentidos, mas como o terreno era a descer escutava distintamente o som do boi a correr de cada vez que passava um carro por ele, com a mulher a gritar-lhe e a tentar pará-lo. À saída da curva avistei a dona a aparecer por trás da vegetação em passo estugado, mas a corda esticou-se. O boi (ainda invisível) parou outra vez. A dona voltou para trás e desapareceu na vegetação. Na curva do lado oposto escutei o som do motor de uma motorizada e por trás do arvoredo surgiu um homem demasiado pesado, de capacete em forma de meia bola, com umas orelheiras atadas debaixo do queixo por uma fivela que se enterrava na papada. O motoretista olhou para mim, acelerou, o tubo de escape soltou um peido de gasolina queimada, a motorizada descaiu na roda de trás com o solavanco e, conforme desapareceu por trás da vegetação, deu lugar ao boi, com a dona a correr atrás, a puxar-lhe a corda e a ter de voltar a dar-lhe folga, não fosse cair ao chão. O boi acabou por se acalmar e a dona retomou o caminho, puxando a corda com o boi atrás. Para minha frustração, acertaram o passo e fizeram o percurso até chegarem perto de mim. Foi então que voltei a escutar, muito ao fundo (e sem perceber de que lado), o som esforçado de um motor de camioneta. A mulher interrompeu a marcha, antevendo nova excitação do boi. A camioneta por fim saiu da curva, e logo colada atrás uma outra motorizada. Do outro lado da estrada aproximava-se também uma carrinha. Quando ambas se cruzaram à minha frente disparei, ao som de um crash que quase me furou os tímpanos. Ignorando a carrinha na direcção oposta, o motoretista saiu da frente da camioneta a acelerar e julgo que a imagem ficou imobilizada logo a seguir ao choque, uma vez que apenas se vêem, mesmo à frente do condutor da carrinha, os braços esticados do motoretista e, entre eles, a meia bola preta da sua cabeça. A motorizada não se vê porque o boi está a tapá-la. Aliás, estas pernas no ar, com um dos pés descalços, mesmo por cima dos cornos, pertencem à dona e se repararem na posição esticada da corda poderão daí inferir que ela, mesmo com a pega de costas, nunca largou a rédea do boi. O mesmo não se pode dizer do desprevenido motoretista que sobrevoou a carrinha, por sinal uma ambulância.

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