Esta fotografia foi tirada numa sexta-feira, à saída duma fábrica de tecelagem.
Ao contrário dos escritório, em que as pessoas se vestem e perfumam como se fossem sair para um encontro social, nas fábricas as pessoas andam fardadas ou com roupas práticas, transpiram, sujam-se, mas com o fim do horário de expediente despem as fardas do trabalho, tomam banho, vestem roupa fresca, maquilham-se e saem frescas para a rua, prontas para outra vida. As fábricas são também sítios de acesso reservado, existem gradeamentos, seguranças, é um ambiente que tem o seu quê de concentracionário (a concentração, de resto, torna-se essencial em resultado de tarefas muito técnicas e repetitivas, envolvendo máquinas que podem causar acidentes graves em caso de distracção). A própria disciplina de trabalho impede as pessoas de fazerem pausas de acordo com o seu estado de cansaço, obrigando-as a respeitar horários comuns para dar início ao trabalho, fazer uma pausa para refeições (que normalmente acontecem no interior da fábrica), etc. Tudo é muito racional, ou assim parece. Muitas vezes, nem serve os interesses colectivos, mas apenas os da produção. Reverte a favor da fábrica em si, ou daqueles que conceberam o seu modo de produção. Talvez por isso, os momentos que me pareceram mais fotogénicos acontecem à saída (não pude evitar lembrar-me da frase que os alemães, durante a segunda guerra mundial, usavam à entrada de um campo de concentração: arbeit macht frei, “o trabalho liberta”). Abandonar uma fábrica, mesmo por um fim de semana, pareceu-me equivaler a um sentimento de libertação superior a qualquer estado de cansaço. Alinhava-se um carreiro de mulheres dirigindo-se ao portão, seguiam pela berma da estrada até à paragem de autocarros... uma das empregadas mais jovens, muito espevitada, atravessou a estrada no momento em que vinha a passar um carro “de patrão”... das rodas do carro sai esta pequena nuvem de fumo por causa da travagem brusca. À beira da estrada, há quem se ria da temeridade da jovem colega, que arriscou um atropelamento. Nos rostos das outras colegas pode identificar-se alívio (o risco já passou), pavor (o atropelamento é inevitável), surpresa (como é que conseguiu travar?), incredulidade (para que fez ela isto?), condescendência (esta juventude...), desprezo (estes reis da m...) e até heroísmo (a mulher em passo de corrida e com os braços esticados para a frente, num movimento que embora inútil denuncia a tentativa de arrancar a colega da frente do carro). Pena é que muitas destas expressões apenas sejam visíveis numa ampliação ou com a ajuda duma lupa.
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