quarta-feira, 30 de março de 2011

conde redondo

Esta imagem faz-me rir.
O meu irmão tinha acabado de gravar um disco, “Roque ios Traidores”, e ficou muito entusiasmado quando viu um trabalho que eu tinha feito recentemente no Rio de Janeiro, com as prostitutas de rua, nomeadamente uma série dedicada aos travestis. Só que esse trabalho era uma encomenda de uma revista e eu tinha cedido os direitos em exclusivo. Então ficou combinado que eu tentaria fazer algo parecido na Conde Redondo, em Lisboa, onde habitualmente os travestis param à espera de clientes. Havia o inconveniente de só poder trabalhar durante a noite, que é a altura em que elas aparecem e o Jaime queria algo mais luminoso, mais diurno. Mas nem isso aconteceu porque elas fugiam de mim e só aceitavam ser fotografadas na condição de não se lhes ver a cara. Era tudo o que o meu irmão não queria e eu própria só gosto de trabalhar com pessoas que assumem a sua identidade. Surgiu então a ideia do meu irmão ser o modelo. Levou um vestido muito bonito de Verão (que na imagem mal se nota), apesar de estar um frio de rachar, com o vento que fazia. O pior foram os sapatos. Como a Rua Conde Redondo tem uma inclinação muito acentuada e andava com uns saltos enormes, ao fim de uma hora doíam-lhe os rins. Foi então que se sentou à beira do passeio (ou no meio fio, como lhe chamavam as prostitutas brasileiras), e puxou de um cigarro. Ele está a olhar na direcção de cima porque um taxista tinha acabado de arrancar depois de meter conversa com ele. Perguntei-lhe se queria fazer negócio, mas ele disse-me que não. Estava-se a queixar pelo facto de ter as pernas estendidas na estrada e teve de se desviar. É por isso que o Jaime tem as pernas abertas (“Pareço uma tenda”, disse, quando viu a revelação). Recolheu as pernas, mas meteu os saltos para dentro e os joelhos ficaram virados para fora. Com o vento que fazia, estava já todo despenteado. Só na maquilhagem é que ficou impecável. Ao contrário da intenção inicial, de ter muita gente no passeio por trás dela (isto é, del), não se vê mais ninguém na rua. A capa ficou diferente do original. Ele optou por fazer um pormenor do rosto, enquadrado pelo peito. Ninguém percebeu que era ele na capa.

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