quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Daniel H. Pink: Drive


De acordo com Mr. Pink estamos a assistir ao crepúsculo do dinheiro como motivação. Outros valores cantarão.


O norte-americano Daniel H. Pink (n. 1964) publica artigos sobre negócios no New York Times, Harvard Business Review, Fast Company e Wired, assinando uma coluna mensal no jornal britânico The Sunday Telegraph. Os quatro livros que já publicou são dedicados ao mundo do trabalho em transformação. No primeiro que escreveu, “A Nova Inteligência” (ed. Oficina do Livro), defende que a era da informação está a terminar, iniciando-se uma era conceptual, em que o trabalho já não será orientado pelo cumprimento de tarefas “algorítmicas”, assentes em regras pré-definidas, mas sim “heurísticas”, ou seja, que implicam o uso de criatividade.
O arranque de “Drive” (ed. Estrelapolar, trad. Helena Ramos) é uma maravilha: descreve um dia de trabalho num laboratório em 1949, com três investigadores a observarem oito macacos, para os quais foi concebido um problema. O desafio é uma espécie de cadeado que implica a passagem por três etapas para ser aberto. E apesar do cadeado ser inútil (não abre para uma porta com comida, não dá acesso a nada), os macacos dedicam-se a tentar abri-lo. Independentemente de qualquer recompensa externa, alimento, liberdade ou companhia, a motivação dos macacos foi apenas a de tentarem resolver o problema!
A partir daqui, e seguindo uma sequência de relatos de experiências progressivamente mais complexas e aproximadas do mundo do trabalho contemporâneo, Daniel H. Pink chega à conclusão que o método de Taylor, de recompensa e castigo (“da cenoura e do chicote”), que tão bons resultados deu durante a gestão dos trabalhadores no século XX, agoniza. O mundo frio do trabalho, dividido entre os que mandam e os que fazem o que lhes é mandado está a dissolver-se porque a falta de motivação própria (ou “intrínseca”) destrói  qualquer chance de um trabalhador vir a ser produtivo, num contexto de problemas de trabalho que dependam da criatividade.
A fase digamos operativa desse novo mundo, em que trabalhar é ser criativo, caracteriza-se por pessoas altamente estimuladas, na condição de se encontrarem na posse de “três necessidades psicológicas inatas”: autonomia (geradora de empenhamento), competência (resultado de uma dinâmica de concentração a que chama fluxo - “flow” no original) e de relacionamento com os outros. A parte mais sumarenta do livro é quando aborda a  transição entre o sistema de motivações do séc. XX, ainda vigente, e o novo que se segue.
Como é que Mr. Pink explica a substituição de um modelo de gestão baseado no controlo, por outro baseado na ética do trabalho? A famosa história de como Tom Sawyer pôs os colegas a pintarem a cerca da sua tia e a pagarem por isso, é uma bela metáfora, e a existência de 18 milhões de organizações nos Estados Unidos sem empregados pagos também, mas…
A forma como Mr. Pink desconstrói o sistema de recompensas (tanto nas empresas, mas principalmente na educação das crianças) como forma de motivação leva-o a concluir que este modelo corrompe não só as relações (se queres mais, dá mais), como também corrompe o sujeito recompensado (na eminência de receber uma recompensas monetária dá-se uma descarga de dopamina no núcleo accumbens, a mesma zona do cérebro em que ocorrem as dependências – o que explica por exemplo a dificuldade das pessoas abdicarem dos seus direitos adquiridos, mesmo que por uma causa justa).
É exactamente este sistema de recompensas que “limita o âmbito do nosso pensamento”, e que impede as pessoas de resolverem problemas cuja solução não se encontra à vista. A motivação por via da recompensa resulta quando há regras definidas e uma orientação clara, mas quando a solução para um problema é desconhecida esse foco tem “o poder de concentrar a nossa visão no que está à frente dos nossos olhos, excluindo o que se encontra um pouco mais adiante”.
É no comportamento que se encontra a solução, diz Mr. Pink. Como é que as pessoas irão mudar de um comportamento que se alimenta de “desejos extrínsecos” para um outro baseado em desejos “intrínsecos” – quando mais de metade da população trabalhadora vive desmotivada com o trabalho que faz? A solução é simples e clara, mas tremendamente difícil de executar por gestores (cuja existência Mr. Pink deplora)  a não ser que, à semelhança da canção de Sam Cooke, “A change is gonna come”.
Mr. Pink consegue transformar o tema da motivação no trabalho numa experiência de leitura estimulante e clarificadora. O seu objectivo principal é o de fazer uma ponte entre a investigação científica disponível sobre o tema da motivação no comportamento da psicologia humana e os patrões, professors e pais que lidam com a motivação como ferramenta para melhorar a eficácia daqueles que não têm uma “expressão enlevada, esquecidos numa função”.

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