De
acordo com Mr. Pink estamos a assistir ao crepúsculo do dinheiro como
motivação. Outros valores cantarão.
O
norte-americano Daniel H. Pink (n. 1964) publica artigos sobre negócios no New
York Times, Harvard Business Review, Fast Company e Wired, assinando uma coluna
mensal no jornal britânico The Sunday Telegraph. Os quatro livros que já
publicou são dedicados ao mundo do trabalho em transformação. No primeiro que
escreveu, “A Nova Inteligência” (ed. Oficina do Livro), defende que a era da
informação está a terminar, iniciando-se uma era conceptual, em que o trabalho
já não será orientado pelo cumprimento de tarefas “algorítmicas”, assentes em
regras pré-definidas, mas sim “heurísticas”, ou seja, que implicam o uso de
criatividade.
O
arranque de “Drive” (ed. Estrelapolar, trad. Helena Ramos) é uma maravilha: descreve um dia de trabalho num
laboratório em 1949, com três investigadores a observarem oito macacos, para os
quais foi concebido um problema. O desafio é uma espécie de cadeado que implica
a passagem por três etapas para ser aberto. E apesar do cadeado ser inútil (não
abre para uma porta com comida, não dá acesso a nada), os macacos dedicam-se a
tentar abri-lo. Independentemente de qualquer recompensa externa, alimento,
liberdade ou companhia, a motivação dos macacos foi apenas a de tentarem
resolver o problema!
A
partir daqui, e seguindo uma sequência de relatos de experiências
progressivamente mais complexas e aproximadas do mundo do trabalho
contemporâneo, Daniel H. Pink chega à conclusão que o método de Taylor, de
recompensa e castigo (“da cenoura e do chicote”), que tão bons resultados deu
durante a gestão dos trabalhadores no século XX, agoniza. O mundo frio do
trabalho, dividido entre os que mandam e os que fazem o que lhes é mandado está
a dissolver-se porque a falta de motivação própria (ou “intrínseca”)
destrói qualquer chance de um
trabalhador vir a ser produtivo, num contexto de problemas de trabalho que
dependam da criatividade.
A
fase digamos operativa desse novo mundo, em que trabalhar é ser criativo,
caracteriza-se por pessoas altamente estimuladas, na condição de se encontrarem
na posse de “três necessidades psicológicas inatas”: autonomia (geradora de
empenhamento), competência (resultado de uma dinâmica de concentração a que
chama fluxo - “flow” no original) e de relacionamento com os outros. A parte
mais sumarenta do livro é quando aborda a
transição entre o sistema de motivações do séc. XX, ainda vigente, e o
novo que se segue.
Como
é que Mr. Pink explica a substituição de um modelo de gestão baseado no
controlo, por outro baseado na ética do trabalho? A famosa história de como Tom
Sawyer pôs os colegas a pintarem a cerca da sua tia e a pagarem por isso, é uma
bela metáfora, e a existência de 18 milhões de organizações nos Estados Unidos
sem empregados pagos também, mas…
A
forma como Mr. Pink desconstrói o sistema de recompensas (tanto nas empresas,
mas principalmente na educação das crianças) como forma de motivação leva-o a
concluir que este modelo corrompe não só as relações (se queres mais, dá mais),
como também corrompe o sujeito recompensado (na eminência de receber uma
recompensas monetária dá-se uma descarga de dopamina no núcleo accumbens, a
mesma zona do cérebro em que ocorrem as dependências – o que explica por
exemplo a dificuldade das pessoas abdicarem dos seus direitos adquiridos, mesmo
que por uma causa justa).
É
exactamente este sistema de recompensas que “limita o âmbito do nosso
pensamento”, e que impede as pessoas de resolverem problemas cuja solução não
se encontra à vista. A motivação por via da recompensa resulta quando há regras
definidas e uma orientação clara, mas quando a solução para um problema é
desconhecida esse foco tem “o poder de concentrar a nossa visão no que está à
frente dos nossos olhos, excluindo o que se encontra um pouco mais adiante”.
É
no comportamento que se encontra a solução, diz Mr. Pink. Como é que as pessoas
irão mudar de um comportamento que se alimenta de “desejos extrínsecos” para um
outro baseado em desejos “intrínsecos” – quando mais de metade da população
trabalhadora vive desmotivada com o trabalho que faz? A solução é simples e
clara, mas tremendamente difícil de executar por gestores (cuja existência Mr.
Pink deplora) a não ser que, à
semelhança da canção de Sam Cooke, “A change is gonna come”.
Mr.
Pink consegue transformar o tema da motivação no trabalho numa experiência de
leitura estimulante e clarificadora. O seu objectivo principal é o de fazer uma
ponte entre a investigação científica disponível sobre o tema da motivação no
comportamento da psicologia humana e os patrões, professors e pais que lidam
com a motivação como ferramenta para melhorar a eficácia daqueles que não têm
uma “expressão enlevada, esquecidos numa função”.
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