segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

perguntas para um concurso televisivo

No refrão da última faixa do seu primeiro álbum a solo, Stephen Malkmus canta:
a. you took me far to the long ride
b. you took me far to the long rhyme
c. you took me far to the long line.
Não me ocorre nada a não ser a vontade de escrever e como fazer outra coisa não estando contigo? Sou demasiado preguiçoso. Fossem as nossas vidas determinadas por sinais de alarme e em cada linha que avanço não deveria reconhecer em ti uma vocação, nem tão pouco o dom que me proporcionou recompensas fúteis, mas a incompreensível admoestação dum tempo de espera em que o esforço se reduz agora a alcançar paisagens distantes, gastas e depressa cansativas. Não estás aqui, de pouco serve completar-te. Uso os atributos do desenhador que à falta de modelo se agarra a pormenores que decompõem a miragem duma ausência desoladora. Não. A inutilidade mede-se em palavras. São tantas as que me ocorrem quando tardo em resolver o mistério que nos afasta. Os momentos vividos, mesmo havendo abundância de provas, testemunhos e até alguns registos materiais, servem para aumentar um sentimento de perda, de energia desperdiçada e que só foi atribuída para nela reconhecer o meu frustrado poder de decisão repleto de desejos fulgurantes e ocasiões oportunas, mas desprovido de capacidade para agir. Reagir. Um telefonema, uma caminhada, um encontro para mais tarde, um frente-a-frente entre um aparelho de televisão e um sofá a sonhar com uma vida. Uma ilusão de carícias, preciosismos afectuosos, afeições inesperadas, uma comoção presa por algemas, afinidades apanhadas em flagrante, afectações dum espírito caprichoso. Devaneio, dissipação, aparas espiraladas de lápis e finíssimos rolos de borracha gasta. A luz eléctrica consome o que resta da noite consumada, o aquecimento, para já, completa um quadro de conforto de que tu não fazes parte e de que eu, a esta hora, não posso esquivar-me. A resposta certa torna-se impossível porque:
a. não corro para ti, nem escuto os meus passos apressados
b. não rimamos juntos e não ouço a tua voz
d. a linha quebrou-se e a próxima folha está em branco

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